terça-feira, 24 de julho de 2012

Retratos - série "só me interessam os loucos"

..."porque as únicas pessoas que me interessam são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam ou falam chavões... mas queimam, queimam, queimam como fogos de artifício pela noite". (KEROUAC, Jack. On The Road. - Porto Alegre, RS : L&PM, 2008, p. 106.)

Este trabalho reúne pessoas que me fazem lembrar esta citação de Kerouac. Algumas dessas pessoas são amigos e amigas, professores que encontrei ao longo da vida. Outras encomendaram seus retratos ou tiveram seus retratos encomendados por pessoas queridas. Alguns retratos são pequenos, outros grandes, feitos com aquarela, óleo, grafite, colagem, não importa... O importante é que o retrato ganhe personalidade própria.
Agora o trabalho segue em busca de novos loucos, alguns já estão na fila para serem retratados.









quinta-feira, 12 de julho de 2012

MAC (Niterói) - "A linha reta o levará somente à morte"




 



Niemeyer, que é o autor do projeto do MAC (Museu de Arte Contemporânea, ilustrado neste post), adora curvas. Certa vez escreveu o arquiteto:
"O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso de seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein".

Gosto de imaginar que Niemeyer já tenha lido na vida a frase de Jack Kerouac que é o título deste post, aliás, uma frase de que gosto muito. Por falar nisso, estou lendo On The Road novamente, me preparando para a estréia do filme de mesmo nome no cinema.

Mas agora, quero contar e registrar uma história (antes que até eu me esqueça) dos tempos imemoriais de faculdade. Certa vez, estava eu no MAC assistindo a uma palestra do grande arquiteto Oscar Niemeyer. Digo grande, pois naquela época eu era apenas um mero estudante cursando os primeiros períodos de arquitetura e Niemeyer era uma figura mítica. Era tão mítico que eu podia guardá-lo na mesma caixa de outras figuras míticas como o unicórnio, o fauno, a sereia,  o saci, etc.
A palestra foi como eram todas as palestras do arquiteto. Ele fez alguns croquis, falou dos projetos, falou que o MAC nasceu como uma flor que se debruça sobre a Guanabara, falou que a arquitetura não era importante e o que realmente importava eram os amigos e as curvas da mulher amada. Homem sábio.
Depois da palestra formou-se um furdunço, uma fila descomunal de estudantes em busca de um croqui assinado pelo mestre. Depois de 100 (literalmente) estudantes chegava - finalmente - a minha vez. Niemeyer estava sentado junto à uma mesa, com uma cadeira vazia ao seu lado.
Sentei na cadeira.
- Oi meu filho, tudo bem?
- Tudo, e com senhor?
- Qual é o seu nome?
- Rafael.
- Qual projeto você gosta?
- Eu queria a catedral (de Brasília)
Niemeyer desenhou a catedral em um papel A4, colocou o meu nome, assinou e me entregou o desenho, eu agradeci. Era a centésima primeira vez que ele fazia aquilo naquela noite - já havia anoitecido e ninguém arredava o pé da fila - faltavam ainda uns 150 estudantes. Já estava me levantando da cadeira quando ele perguntou:
- Tem muita gente na fila aí fora?
- Sim, mais de 100.
Ele deu um sorriso ensimesmado e disse:
É meu filho, eu “tô fudido" mesmo.
Dei um sorriso e fui embora satisfeito com meu croqui assinado pelo Niemeyer. 
Recentemente aconteceu na FAU-UFRJ uma palestra da renomada arquiteta Zaha Hadid e foi engraçado e prazeroso reconhecer nos estudantes - que esperavam por uma dedicatória após a palestra - a mesma cara de bobo que eu ostentava orgulhoso naquele dia da palestra do Niemeyer no MAC.



segunda-feira, 9 de julho de 2012

Picnic no MAM




Esses são desenhos de algumas semanas atrás que esqueci de postar aqui. Fizemos um picnic nos jardins do MAM. Estavam presentes diversos professores e um bom número de alunos entediados pela greve e com vontade de aproveitar mais um dia sensacional de sol na cidade maravilhosa.

Tenho uma ligação afetiva muito forte com os jardins do MAM, por diversas razões. Na minha infância, meus pais constumavam me levar lá para andar de bicicleta, pegar sol, fazer picnic, costume que guardo até hoje. Naquela época (distante) costumava escalar as pedras do jardim e a estrutura de concreto (em "V") do edifício (já me relacionava, em certa medida, com arquitetura de primeira qualidade, mesmo que de forma inconsciente). Em uma galáxia mais próxima do tempo, também são inesquecíveis as tardes de domingo nos ensaios do Orquestra Voadora durante o pré-carnaval.

Muitos amigos meus (não arquitetos) acham que o projeto do MAM é do Niemeyer, mas eu os informo que estão equivocados. O MAM foi projetado por um dos arquitetos mais talentosos de sua geração e que, infelizmente, morreu prematuramente. Seu nome era Affonso Eduardo Reidy e, além do MAM, nos deixou várias obras construídas, dentre elas: Aterro e Parque do Flamengo, conjunto residencial Pedregulho (São Cristovão), conjunto residencial Marquês de São Vicente (Gávea), Teatro Popular Armando Gonzaga (Marechal Hermes), inúmeras residências espalhadas pela cidade e tantas outras.
Alguns entendidos dizem que, enquanto Niemeyer é um grande criador de formas, Reidy era capaz de associar riqueza plástica com conteúdo social e viabilidade econômica. A criação do Departamento de Habitação Popular, pela engenheira Carmen Portinho, possibilitou que Reidy (indicado como Chefe do Setor de Planejamento) realizasse obras de destaque nacional e internacional, como são os casos dos conjuntos residenciais do Pedregulho e da Gávea. O projeto do Pedregulho ganhou o Primeiro Prêmio da Bienal Internacional de São Paulo de 1951.
Como escreveu Nabil Bonduki: Affonso Eduardo Reidy é um dos pioneiros da renovação da arquitetura no Brasil, formando com Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, o grupo de proa que colocou a arquitetura moderna brasileira em destaque no cenário internacional.

Destaco aqui um trecho de um texto de 1953, do próprio Reidy, sobre o projeto do MAM:
"Se a correspondência entre a obra arquitetural e o ambiente físico que o envolve é sempre um questão da maior importância, no caso do edifício do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro essa condição adquire ainda maior vulto, dada a situação privilegiada do local em que está sendo construído, em pleno coração da cidade, no meio de um extensa área que num futuro próximo será um belo parque público, debruçado sobre o mar, frente à entrada da barra e rodeada pela mais bela paisagem do mundo. Foi preocupação constante do arquiteto evitar, tanto quanto possível, que o edifício viesse a constituir um elemento perturbador na paisagem, entrando em conflito com a natureza. Daí o partido adotado, com o predomínio da horizontal em contraposição ao movimento perfil das montanhas e o emprego de uma estrutura extremamente vazada e transparente, que permitirá manter a continuidade dos jardins até o mar, através do próprio edifício, o qual deixará livre uma parte apreciável do pavimento térreo. Em lugar de confinar as obras de arte entre quatro paredes, num absoluto isolamento do mundo exterior, foi adotada uma solução aberta, em que a natureza circundante participasse do espetáculo oferecido ao visitante do Museu. [...]"
Fonte: Affonso Eduardo Reidy / [Organizador/editor Nabil Georges Bonduki] - São Paulo : Instituto Lina Bo e P. M. Bardi ; Lisboa : Editora Blau, 1999.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Um belo e estranho dia para desenhar o Pão de Açúcar

Para não ficarmos parados durante essa greve prolongada das universidades federais, eu e alguns alunos fomos aproveitar o dia na praia Vermelha, no bairro da Urca. O dia estava lindo e mais uma vez o Pão de Açúcar atraiu o meu olhar (e olha que a concorrência estava forte, quem foi sabe do que estou falando), servindo de motivo principal da aquarela que posto aqui.
 Faremos, na próxima, semana uma visita "desenhística" ao MAC (em Niterói) devidamente munidos de nossos cadernos de croquis, é claro. Essa visita só acontecerá, evidentemente, se a greve continuar e parece que vai continuar - afinal, aparentemente, o governo e a grande maioria dos meios de comunicação não estão nem aí para os nossos problemas educacionais.


terça-feira, 3 de julho de 2012

Ilustração de capa do livro "Redes Sociotécnicas na Amazônia: tradução de saberes no campo da biodiversidade"

Mais uma capa de livro saindo do forno. O autor é o meu amigo Diego Soares, antropólogo e professor de mão cheia. A editora é a Multifoco.
O lançamento do livro "Redes Sociotécnicas na Amazônia: tradução de saberes no campo da biodiversidade", será realizado na sessão de lançamentos de livros da 28ª Reunião Brasileira de Antropologia, entre os dias 03 e 04 de julho, na PUC(1º andar do Prédio Novo), em São Paulo.


Eu recomendo a leitura para quem gosta do assunto. Ai vai um breve resumo:

Este livro resulta do projeto de colocar em relação duas áreas do conhecimento antropológico: os estudos da ciência e a etnologia de povos amazônicos. Trata-se de um estudo de antropologia simétrica voltado para a descrição etnográfica de redes sociotécnicas formadas em torno de iniciativas de ‘desenvolvimento sustentável’ envolvendo, de um lado, comunidades indígenas e tradicionais e, do outro, pesquisadores das áreas de ecologia, agronomia e farmacologia. Tendo como referência os insights teóricos e metodológicos da teoria atorrede, busca-se analisar a relação entre saberes no campo da biodiversidade a partir de uma abordagem ontológica das práticas de  conhecimento agenciadas por cientistas, índios e ribeirinhos na concepção dos ‘objetos’ que circulam nas redes. Esse tema é analisado dentro do contexto histórico marcado pela regulamentação do acesso ao  “patrimônio genético” e aos “conhecimentos tradicionais associados”. Durante esse percurso, vamos refletir sobre uma série de temas correlatos, como os direitos intelectuais, as formas de repartição de benefícios, os processos de anuência prévia, os encontros e desencontros entre o naturalismo ocidental e o perspectivismo ameríndio, a emergência da categoria de pesquisadores indígenas, a tentativa de formação de uma farmacopeia ribeirinha e o estabelecimento de uma feira e de uma associação de agricultores indígenas.