sábado, 3 de julho de 2010

Desenho na Urca



Sábado de Sol no Rio de Janeiro. Para variar, acordo atrasado para a aula de chorinho na Urca, tenho que sair correndo. Não vou de carro, o dia está tão bonito, que cidade, que sorte. Pedaladas apressadas pela Glória. Da confeitaria sai um cheiro delicioso, mas não dá pra parar, sigo em frente, rumo ao aterro. Passo ligeiro pela passarela do Reidy e pelos jardins do Burle Marx. Um olhar rápido em tom de agradecimento na direção do Outeiro. Meu chapéu Panamá sai voando da cabeça. Com reflexos surpreendentemente apurados, cato o chapéu no ar, sem parar a magrela e sem olhar pra trás. Bruce Lee ficaria com inveja de tanta habilidade. Afundo a cabeça no chapéu e toco o barco, ou melhor, a bike. Os atletas de final de semana passam pra lá e pra cá, a galera toca a bola na pelada, alguém grita meu nome – Rafaaa!!! - Mas não dá pra parar a bike e olhar pra trás, tô atrasado. Respondo o cumprimento com um aceno, mas não tenho idéia de quem me grita.

Botafogo logo ali, a vista do Pão de Açúcar acaba com qualquer mau humor, o vento na cara, o Cristo, o mar, o Sol, tudo perfeito (menos o Mourisco). Meninas de bicicleta pedalam pela ciclovia, me lembro de Vinícius: transitórias estátuas, esfuziantes de azul, louras com peles mulatas, princesas da zona sul. Um buraco me traz de volta à rota, mas o dia está perfeito e Vinícius insiste em pendurar-se no trapézio da minha mente: que douradas maravilhas! Bicicletai, meninada, aos ventos do Arpoador, solta a flâmula agitada das cabeleiras em flor, uma correndo à gandaia, outra com jeito de séria, mostrando as pernas sem saia, feitas da mesma matéria...enxames de namoradas ao sol de Copacabana, centauresas transpiradas que o leque do mar abana! A vós o canto que inflama os meus trin’anos, meninas, velozes massas em chama explodindo em vitaminas.

Finalmente, Urca. Chego em cima da hora da aula. O sábado sempre começa bem ao som de Jacob do Bandolim, Pixinguinha, Anacleto de Medeiros. O dia pede uma trilha sonora e essa está mais que adequada.

Depois desse “estresse” todo, pego minha bike e vou pra Praia Vermelha (armado de lápis, papel e aquarela), onde havia marcado encontro com alguns alunos de desenho. Tento escolher um tema para desenhar, mas o Pão de Açúcar é quase irresistível. Resolvo fazer uma aquarela para dar conta da luz da tarde que bate na montanha. Aproveito pra colocar minha magrela na composição, desenho a palmeira um pouco mais pra direita, de modo que não atrapalhe a vista do Pão de Açúcar. Passo a tarde ali, curtindo o sábado de Sol em minha cidade maravilhosa. Está ai o resultado.

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